É senso comum que a Inteligência Artificial (IA) terá fortes impactos sobre o mercado de trabalho. Outra certeza que vem se desenhando é que ela não levará demissões. Ao contrário, pode gerar mais empregos do que cortes e, de quebra, aumentar a produtividade. Isso deve acontecer porque a maioria dos trabalhadores está empregada em ocupações apenas parcialmente passíveis de automação por IA, o que significa que poderão aplicar parte da capacidade eventualmente liberada em tarefas mais estratégicas e capazes de elevar a sua produtividade.
Talvez você esteja se perguntando: “Ok, se a evolução da IA não coloca empregos em risco, qual seriam os seus reflexos sobre o mercado de trabalho?” A questão é que ela irá transformar esse mercado à medida que exigirá capacitações diferenciadas. De um lado, os profissionais que atuam – ou planejam atuar – diretamente com Tecnologia da Informação devem buscar especializações especificas em IA. De outro, a Inteligência Artificial cria uma nova era de habilidades em tempo real.
Recentemente, em um painel realizado durante o Febraban Tech 2023, Ian Beacraft, fundador e futurista-chefe da Signal and Cipher, assegurou que a IA dará origem ao que ele chama de generalista criativo. Seriam, segundo ele, profissionais que somarão inteligência artificial aos conhecimentos que já possuem. Os generalistas criativos utilizarão a IA para rapidamente integrar conhecimentos em áreas nas quais não possuem especialidade.
Um exemplo seria um cartunista que domina a arte de criar quadrinhos, mas não conhece nada sobre filmagem. Com IA, ele pode transformar suas histórias em filmes sem saber programar ou editar vídeos.
Esse movimento obrigará instituições de ensino a reverem suas grades curriculares, bem como exigirá que as empresas revisitem seus modelos de contratação e avaliação de funcionários. E isso é bom. Ele também deve dar mais oportunidades a profissionais que não necessariamente dominem o universo da tecnologia – desde que, evidentemente, eles consigam ter acesso ao conhecimento, o que pode demandar a criação de políticas públicas de inclusão digital. Algo mais complexo e burocrático. E isso é ruim.
Em outro painel realizado também durante o Febraban Tech 2023, o cientista político americano Ian Bremmer, fundador da Eurasia Group, consultoria especializada em riscos de natureza geopolítica, observou que a inteligência artificial pode criar “uma geração de jovens cidadãos crescendo sob influência de algoritmos desumanizados”. E isso é ruim, uma vez que, segundo ele, pode levar essa geração a desvalorizar a interação com outros seres humanos, representando um risco à própria democracia.
Ainda que Bremmer acredite que o número de vagas de trabalho geradas pela IA deva superar o número de empregos perdidos, ele avalia que as novas vagas serão ocupadas por novos profissionais, gerando ressentimentos entre aqueles excluídos do mercado de trabalho. E isso é ruim. Somado à desinformação espalhada nos dias atuais, como ele mesmo colocou, essa substituição pode acentuar a polarização e ódio nas democracias.
Finalmente, eu, que não sou nenhum futurista ou cientista político, arrisco dizer as transformações trazidas pela IA são, no final das contas, positivas. E sim, as novas tecnologias de IA exigirão mão-de-obra mais qualificada. Por outro lado, concordo que, quando a IA é utilizada como ferramenta, ela é capaz de tornar mais capazes aqueles menos qualificados. Ou seja, há vagas e oportunidade para todos. E isso é ótimo!
*Paulo Marcelo é CEO da Solutis